Nunca tive alguém a que chamasse casa, talvez por isso chamasse casa a sítios.
Durante anos chamei casa ao sítio onde me deitava para dormir. Uma cidade, depois outra, uma terceira, eram para mim lugares tão familiares como a minha sala, até muitas vezes mais familiares que a minha sala.
Talvez não chamasse casa a nada, muito menos a alguém, porque casa seria um lugar que já estava perdido, que foi enterrado com os mortos e com o tempo que passa. E não tinha a nostalgia dele, nem tive nunca a vontade de voltar atrás.
Só percebi muito mais tarde a verdade.
Percebi que casa é o lugar que se faz com as mãos.
Que só posso chamar casa ao lugar que abre os braços para me receber.
Que casa é um lugar no peito de ti.
Que estar em casa é deitar a cabeça no teu colo, e Tu a tua no meu.
Que essa é a verdadeira casa, e que tudo o resto interessa pouco.