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No princípio, custa bastante. Depois, com o tempo, começa a doer menos. Começamos a criar anticorpos. Tornamo-nos mais resistentes. Transformamos essa dor que começou por ser intensa naquilo que nos transforma em pessoas capazes de a vencer. Não é fácil. Há venenos poderosos, habilmente doseados, capazes de nos paralisar ou adormecer. O medo daquilo que pensam ou dizem sobre nós, por exemplo. O medo de voltar a sofrer, por exemplo. O medo de voltar a perder e o medo de voltar a sentirmo-nos perdidos. O medo de não ser suficientemente bom. Melhor dizendo, o medo de não sermos considerados suficientemente bons. Depois, com o tempo, vamos encontrando o antídoto. Vamos confiando cada vez mais na pessoa que somos e não faz mal que não nos queiram bem. Vamos percebendo que, quando damos o melhor, o resto não interessa. Por isso se chama resto.
lado.a.lado