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Anathema, 01.05.22
“Chega um dia em que tudo faz sentido. Os pontos se ligam, as histórias se completam, as entrelinhas são, enfim, entendidas. Chega um dia em que as verdades expostas não assustam mais, os receios não nos param e os medos, apenas se transformam em bons incentivos. Chega um dia em os segredos são revelados e nada mais fica incerto. Fincamos o pé no chão com força e nenhum vento forte tem mais poder para nos derrubar.
Chega o momento em que entendemos que desculpas nunca são sinceras, descobrimos que as mentiras podem ter pernas bem longas e que a maldade também cresce do lado de dentro de sorrisos perfeitos. Aprendemos que o "novamente" nunca deve ser para sempre e que o quê não serviu para “ser eterno”, muitas vezes é muito difícil de esquecer. Aprendemos a deixar de fingir que acreditamos e a revelar aquilo que nos atormenta. Aprendemos que um grito tem menos força que o silenciar. Chega um dia que não dá mais para guardar nada nas gavetas. Chega o dia de jogar fora o lixo, apagar os rascunhos, rasgar as velhas cartas e recomeçar.
Chega o dia em que entendemos os sinais, compreendemos os olhares e cada toque, tem mais a falar do que mil palavras. Aprendemos que um coração não é a peça de um jogo que se ganha apenas por uma noite, é um presente que você pode ter para uma vida inteira e que paixão nenhuma é playground, não dá para amar de brincadeira. Chega um dia em que o corpo, a alma e o coração definitivamente se reencontram, se reconhecem e começam a caminhar juntos por histórias ainda por contar, por tanto amor ainda por fazer, tanta água na boca a se sentir, tantos versos a partilhar. Chega o dia em que o sol fica mais lindo, a chuva fica mais linda, o dia fica mais lindo e a noite também. Chega o dia em que aprendemos a ver a beleza da vida com olhos de felicidade, sentimos a paz invadir pela pele a nossa carne, sentimos a melodia de sermos nós mesmos em harmonia com o mundo e a gente passa a ver somente o lado belo em tudo.
Aprendemos a respirar forte e sentir o vento contrário em nosso rosto. Aprendemos a sentir o frio e o quente de quem está além do muro inatingível do nosso corpo. A gente aprende a acreditar que o que nos cerca, também nos alimenta. Um dia esfria, um dia esquenta. Passamos a amar quem somos e passamos a ser capazes de compreender que não há fórmulas, nem receitas, nem palavras que nos fazem sentir pior, pois o que nos torna melhor, simplesmente, é compreender que só precisamos amar quem somos, na essência da palavra "ser". Chega um dia em que, simplesmente, olhamos no espelho, desconstruímos nosso passado, remontamos nosso futuro, repintamos nossa existência e descobrimos que, finalmente, estamos aprendendo a viver. ”
Cleonio Dourado