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Anathema, 26.01.22
À minha bisavó, falecida em 26 de janeiro de 1978, e ao meu bisavô, falecido em 27 de janeiro de 1978.
Um dia, cruzaram-se. Ele chegava a casa do trabalho, ela tinha ido à fonte. Graciosa, com a enfusa à cabeça. Ele vinha cansado, moído do sol. Ela pousou a enfusa e ele pousou o olhar nela. Mataram os dois a sede. Depois, ela voltou a pôr a enfusa à cabeça e pôs-se a caminho de casa. Ele seguiu-a.
Os dias correram. A água também. E eles um para o outro. Sempre. Até ao dia em que ela lhe quis mostrar que nenhuma vida chegaria para tanta sede. Até ao dia em que ela lhe quis mostrar que não fazia mal morrer. Até ao dia em que ela lhe quis dizer que não tivesse medo. Ele seguiu-a.
lado.a.lado