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Coisas que me irritam? Ui, tantas. Por exemplo, quando vou ao cabeleireiro e peço para cortar as pontas e vejo que só deixaram as pontas e que o resto já era. Quando vou pagar as compras no supermercado e escolho a caixa vazia e falta o rolo de papel na máquina e vejo as 50 pessoas que estavam na outra caixa saírem primeiro do que eu. Quando vou devagarinho na estrada para passar no semáforo e afinal tenho de parar no vermelho por causa do carro que vem atrás. Irritam-me também aquelas pessoas post-it, que se vão colando aqui e ali conforme as conveniências. No tempo do Padre António Vieira é que não havia ou ele teria substituído os pegadores pelos post-it. Vão colando como quem não quer a coisa, mas quer. Não querem é outra coisa.
Irrita-me afiar o lápis e o bico partir e voltar a afiar e afiar até ficar sem lápis. Irrita-me ficar com o nariz vermelho no inverno. Irritam-me queixas, queixinhas e queixumes. Irra. Irritam-me as pessoas que dizem «Eu sei o que isso é». É que não sabem. Ninguém sabe. E irrita-me muito - muitíssimo - que me digam «Isso para ti é fácil», como se as coisas se aprendessem por milagre. Como se estivesse estendida na toalha a apanhar sol. Como se não houvesse uma vida inteira de trabalho por trás. As coisas só se tornam fáceis quando não lhes facilitamos a vida. E isso é muito difícil.
lado.a.lado