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Se não precisar de sair quando está a chover, não saio. É óbvio. Mas se precisar de sair, tenho de me preparar para a chuva e, mesmo assim, já se sabe o que vai acontecer: o cabelo encaracola, as calças colam-se às pernas e há de haver uma pinga qualquer, daquelas bem grossas, a cair-me gelada no meio da cabeça só para fazer pandã com o nariz vermelho do frio. Ora isto é o que acontece com a vida em geral. Se a vida fosse fácil e não fosse preciso fazer por ela, a gente não precisava de ir à luta. Como precisamos, temos de nos preparar e de nos apetrechar. A determinação e o trabalho nunca podem ficar em casa. Já se sabe, também aqui, que havemos de encontrar umas nuvens ameaçadoras pelo caminho e que há de haver um vento que nos quer virar a alma do avesso – o que é muito pior do que ter o guarda-chuva virado ao contrário ou as varetas partidas – mas não podemos deixar de caminhar. Temos de continuar e seguir viagem. Secar as mágoas, sabendo que vem aí outra molha.
lado.a.lado