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Junho 03, 2021
Anathema
Era uma vez a palavra «feito». Tinha sido um parto difícil, fazer nunca é fácil. Depois, estando feito o que se tinha pensado fazer, logo apareceu quem olhasse para a palavra «feito» e lhe prefixasse um «de», daqueles autocolantes e que são comprados por quem não tem mais nada para fazer. A palavra ficou triste, começou a coxear com o peso do prefixo, e logo ouviu quem dissesse que era «Bem feito!», sentindo tombar o tracinho do t. Teve de ir ao médico, que lhe removeu o prefixo e o substituiu por um «re». Recuperou o ânimo e encontrou trabalho como gerente de particípios passados e mal passados, que estas histórias, às vezes, têm terminações irregulares. Um dia, à hora de almoço, cruzou-se com a 2.ª pessoa do singular de um verbo copulativo – estava-se mesmo a ver – e a conversa foi tão animada que o «re» saltou. A 2.ª pessoa tirou da carteira um outro prefixo e colou-lho com enlevo. Depois, afastou-se um pouco para ver como lhe assentava, e disse «Perfeito!».
lado-a-lado