...
Fevereiro 05, 2021
Anathema
Há dias em que não sei lidar comigo mesma. Em que a razão me chama para uma realidade que teimo em não aceitar, mas que no fundo sei que é a minha. Em que a razão senhora de si silencia um coração que quer gritar. Que se quer ver livre e solto para voar por aí.
Em que a razão me impõe que engula as lágrimas. Que as deixe guardadas algures dentro de mim, sem permissão para sair. Sem permissão para sentir. Sem permissão para ser não mais do que aquilo que esperam de mim.
Somam-se os dias à idade que me recuso a ter. O espelho olha-me ao desafio. Mas o que vê ele? Não mais do que pareço. O que sabe ele sobre mim afinal? Não sou o que pareço. Sou o que sinto. Sou a rebeldia. A irreverência. Sou a menina idealista que sonha com um mundo onde o que sentimos não é pecado. Para lá de preconceitos que não aceito como valores. Para lá de estereótipos que pintam um mundo a preto e branco. Onde não cabe o meu arco-íris. Onde não se encaixa o meu coração.
E poucos são os que conhecem o meu mundo. Que pode ser cheio de castelos de areia à beira mar. Que os levam as ondas, bem o sei. Mas no dia seguinte construo um maior, mais brilhante. Com todas as cores que o vento tem.
Não quero saber da razão se esta me castra os sonhos. Me impede de ser quem sou. Me impede de viver.
Crescer foi a ideia mais estúpida que alguma vez alguém teve.
Quando posso voltar a ser menina outra vez?
Patrícia