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Outubro 26, 2020
Anathema
Quem me dera voltar a esse tempo em que me voltava para trás para te ver atrás de mim, vigiando os meus passos e incentivando com o olhar o meu caminho. Quem me dera voltar a esse tempo em que tudo estava tão longe e tu tão perto. Quem me dera voltar a ser pequenino e não pensar ainda em destino e não saber que viriam dias em que não te teria. Sim, quem me dera voltar a ter os joelhos esfolados e o teu sermão vindo desse coração onde o amor cabia inteiro. Quem me dera encostar a minha cabeça ao teu peito e achar o mundo perfeito na ternura grave da tua voz. Quem me dera não precisar de dizer quem me dera e houvesse nesta vida maneira de guardar connosco quem nos guarda. Sim, quem me dera ter a idade em que ninguém morre nem a vida fala de despedidas e é tudo tão tranquilo e os sorrisos cristalinos como águas límpidas. Devia haver maneira de convencer o amor a dar-nos mais tempo e de entreter as horas para que se esqueçam de passar. Não precisaria de memória, porque era só chegar a casa e sentar-me ao teu colo e dizer-te que a tua barba pica e que os teus olhos de veludo fazem esquecer tudo.
lado.a.lado