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Anathema

"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"

Anathema

"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"

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Anathema, 31.01.22

 

Há coisas que nasceram para andar juntas. A noite e o luar. O amor e a saudade. A palavra e o silêncio. A direita e a esquerda. Fred Astaire e Ginger Rogers. A infância e a inconsciência. O rio e as margens. O vento e os moinhos. A tempestade e a bonança. A dúvida e a certeza. A pele e o arrepio. As cócegas e o riso. O sonho e o beliscão. A carta e o envelope. O dizer e o repetir. O princípio e o fim. A vida e a morte. O escritor e o leitor.

Lado a lado.

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Anathema, 31.01.22

 

Não digas que não consegues. Não desistas. Pega em ti e leva-te até onde queres ir. Não te deixes ficar. Eu ajudo. Não digas que não vale a pena. Enquanto houver hipótese, por menor que seja, por mais ínfima que pareça, luta. Trabalha. Enquanto houver possibilidade, ignora a probabilidade. Arranja a coragem que puseste ao canto e vê que ainda funciona. Levanta a cabeça e não curves os ombros. Precisas de ver bem o caminho. Não digas que não consegues. Vai. Tenta. Tira o pó da determinação e vê como ainda brilha. Não desistas. As almas não envelhecem. Vai atrás de ti. Enquanto houver uma frincha de luz, a escuridão nada pode. Enquanto houver a mais pequena hipótese, cresce e mostra que és enorme. Dá flor.

lado.a.lado

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Anathema, 30.01.22

 

Agradece a todas as pessoas que te disseram que não eras capaz. Aprendeste a desobedecer. Agradece a todas as pessoas que se riram de ti. Deram-te vontade de rir por último. Agradece a todas as pessoas que fizeram pouco de ti. Deram-te vontade de fazer mais. Agradece a todas as pessoas que te quiseram ver fraquejar. Por causa delas, descobriste uma força que não sabias que tinhas. Agradece a todas as pessoas que te quiseram diminuir. Aprendeste a estar à tua altura. Aprendeste que a tua felicidade não depende da opinião de ninguém. Agradece a quem te bateu com a porta na cara e quis afastar do caminho. Quanto mais te tentaram afastar, mais te aproximaste do que querias, mais certeza tiveste do teu destino.

lado.a.lado

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Anathema, 29.01.22

 

Não apontes o dedo, aponta o que é importante. Não apontes defeitos, aponta as qualidades. Não apontes os erros, aponta a saída. Não apontes nada que mereça ser esquecido. Aponta as coisas que te fazem feliz e que não podes esquecer. Não apontes o que não te acrescenta nem o que te diminui. Não apontes as mágoas, aponta à alegria e deixa o coração disparar de felicidade. Não apontes só por apontar, há coisas que deves desaprender. Não apontes por ver apontar, aponta quando souberes indicar o caminho. Aponta os sonhos. Não uses lápis, usa a memória. Usa as asas. Olha para cima e vê que a vida aponta para ti. É a tua vez. Não fiques a dever-te. O que não vives fica apontado para sempre. Não deixes. Vive. Aponta ao destino e cumpre-te. Desaperta o teu coração. O coração aponta sempre a direção.

lado.a.lado

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Anathema, 28.01.22

 

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Anathema, 28.01.22

 

Agradeço à Vida ter-me trazido até aqui. Agradeço à Vida por cuidar de mim. Agradeço à Vida ter-me trazido uma vida extraordinária. Agradeço à Vida as coisas boas que me dá – e são tantas, tantas – e as coisas más. Nada está a mais. Acredito que são as coisas necessárias, as coisas certas para que eu possa errar. Para que eu possa crescer. Não é fácil. As dores de crescimento da alma não desaparecem com a idade. Agradeço-lhe as pessoas extraordinárias que pôs no meu caminho – ou o ter-me posto no caminho delas, nestas coisas de caminhos nunca se sabe muito bem quais são as fronteiras – e os desafios com que me põe à prova. Agradeço à Vida dar-me tanta vontade de viver. Cada vez mais tenho vontade de viver. Os anos passam, mas eu não quero passar pela vida. Não deixo. Não me abandono. Não deixo ficar nenhuma paixão pelo caminho. Não ceguei para a maravilha do mundo e das pequenas coisas enormes. A vida inspira-me. Respiro vida por todos os poros. Agradeço à Vida a hospitalidade com que me recebeu, a forma como me fez sentir em casa. A forma como me pede entrega. É maravilhoso podermos estar na nossa vida sem fazer cerimónia, sem pedir licença para sermos nós. Tal como somos.

lado.a.lado

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Anathema, 28.01.22

 

Aquilo que te quero deixar não são só as palavras. É que nem sempre estou nas palavras que escrevo, porque o que escrevo nem sempre me escreve. Nem sempre me deixo ficar nas palavras que deixo. Aquilo que digo nem sempre fala por mim. Quem escreve tem em si quem não é. Tu sabes. E sabes que as palavras não são só o que dizem, mas o que querem dizer. E o que eu quero dizer, independentemente das palavras, é que o sentido da vida está naquilo que nos faz viver. Não é tanto o que escrevo, mas a razão por que escrevo. A razão por que escrevo estará sempre presente nas palavras que escrevo, mesmo que eu não esteja presente nelas. Escrevo para sair de mim. Quem escreve para sair de si não quer ser encontrado, antes quer que alguém se encontre no que não escreveu.

lado.a.lado

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Anathema, 26.01.22

 

À minha bisavó, falecida em 26 de janeiro de 1978, e ao meu bisavô, falecido em 27 de janeiro de 1978.
Um dia, cruzaram-se. Ele chegava a casa do trabalho, ela tinha ido à fonte. Graciosa, com a enfusa à cabeça. Ele vinha cansado, moído do sol. Ela pousou a enfusa e ele pousou o olhar nela. Mataram os dois a sede. Depois, ela voltou a pôr a enfusa à cabeça e pôs-se a caminho de casa. Ele seguiu-a.
Os dias correram. A água também. E eles um para o outro. Sempre. Até ao dia em que ela lhe quis mostrar que nenhuma vida chegaria para tanta sede. Até ao dia em que ela lhe quis mostrar que não fazia mal morrer. Até ao dia em que ela lhe quis dizer que não tivesse medo. Ele seguiu-a.
 
lado.a.lado

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Anathema, 25.01.22

 

Continua a ser a pessoa que és. Continua a ser genuína. Deixa que os outros façam os seus jogos. Nunca quiseste aprender a jogar, não vai ser agora. Deixa que os outros façam os seus planos e passem o dia a pensar nos esquemas e nas estratégias com que pensam chegar mais longe. Deixa. Nunca vão chegar a lado nenhum. Deixa que percam tempo a tentar ganhar tempo. Deixa que calculem como reduzir a distância entre as conveniências. Deixa que façam as ligações e tentem reatar aquelas que elas próprias cortaram. Deixa. Continua tu a ser verdadeira, sem ardis ou bastidores. Deixa. Quem te quer prender já está preso a ti, por isso te persegue. Sabe que não te consegue alcançar. Deixa. São pessoas que nunca vão deixar nada. Não podem deixar o que lhes falta. Não te preocupes se dizem mal de ti. Ainda bem que dizem. Seria preocupante que pessoas assim dissessem bem de ti. Deixa que virem os teus amigos contra ti. Aliás, agradece que o façam. Mais fácil se torna limpar o caminho das ervas daninhas. A amizade não vira ao sabor do vento e da maledicência. Deixa que juntem esforços para minimizar o teu. Deixa que chamem aqueles que eram seus inimigos. Os inimigos são amigos fáceis de conquistar quando têm o mesmo alvo a abater. Deixa. O tempo que gastam a mexer cordelinhos e a dar pontos com nó e outros lavores para servir interesses próprios podia ser aproveitado para crescer. Mas estas pessoas acham-se as maiores. Pararam de crescer há muito.

 

lado.a.lado

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Anathema, 25.01.22

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