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"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"
"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"
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À semelhança do anterior, o ano não foi fácil. Nada fácil. Houve muita coisa que queríamos ter feito e não pudemos, como visitar e abraçar. No entanto, não fazer aquilo que normalmente fazemos para mostrar às pessoas que gostamos delas foi também – e sobretudo – um gesto de preocupação e de amor. Não fazer também é fazer. Não fizemos – por amor – aquilo que por amor estávamos habituados a fazer.
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Às vezes, acho que a vida é como um quarto desarrumado. Vamos colocando a roupa na cadeira e deixamos algumas peças por pendurar. Deixamos algumas coisas fora do sítio e outras sem saber onde as pusemos. Deixamos andar, até já não ser possível adiar a arrumação de que o quarto precisa. Com a vida, também acontece ser assim. Parece que vai adiando pôr as coisas no sítio, parece que gosta de nos baralhar e confundir, faz-nos andar à procura de coisas que nos escondeu, faz-nos duvidar de que voltaremos a ter as coisas – o coração e o pensamento – organizadas, faz-nos tropeçar nos obstáculos que deixa espalhados pelo chão e deixa cair o desânimo nos planos que traçamos e parece que tudo fica mais longe e mais difícil. Mas, depois, há um dia em que a vida percebe que está na hora de limpar o quarto e que é preciso voltar a pôr as coisas no lugar e que tudo está certo e que não podemos desistir só porque os sonhos estão de pantanas. Virá o dia em que a vida lhes virá sacudir a desilusão e voltar a pô-los de pé.
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Não é fácil manter o equilíbrio. A agitação é constante e às vezes os dias encapelam-se. Nestas alturas, a corrente revolve o fundo da alma e tira a serenidade do sítio. É preciso voltar a encontrá-la. Para encontrar a serenidade, temos de voltar a fazer o caminho e olhar com atenção para as coisas que nos fazem felizes. É lá que a serenidade se refugia. Temos de regressar aos lugares do nosso coração. Conversar com a noite, conversar com as flores e com as árvores, conversar com o mar. Estabelecer diálogo com aquilo que nos rodeia faz-nos ter consciência da grandeza do mundo. Não para nos sentirmos pequenos, mas para nos sentirmos parte de algo maior.
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