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A minha avó não sabia ler nem escrever. Sabia, no entanto, ler o meu olhar e conhecia as palavras certas com que escreveu no meu coração um amor profundo e que se espraia na minha memória como uma planície rendida ao horizonte. Conta, avó, pedia eu, conta outra vez. E ela contava, vezes sem conta, histórias de antes, histórias de tesouros enterrados, histórias de mouras encantadas que me enfeitiçavam, histórias de que a nossa história se alimentou. Sim, a minha avó não sabia ler nem escrever, não sabia juntar as letras, mas sabia juntar-nos à sua volta, sabia juntar as minhas mãos pequeninas nas suas e o meu coração ao seu. E à noite, na cama, uma ao lado da outra, a minha avó juntava à minha sede de magia a sua voz de veludo e nessas horas só nossas cabia tudo.
lado.a.lado