Tem dito que pensar na morte valoriza a vida.
A morte não é uma experiência que se possa partilhar. Ninguém pode dizer-nos como é.
Avançar na idade torna-a mais presente no pensamento?
É como na canção do Frank Sinatra, September of My Years, que a minha mãe me deu a conhecer. Com o fim das férias grandes, sabemos que vem aí o inverno. Envelhecer é perceber que estamos muito longe do ponto da nascença. A noção de fim aumenta. Nunca o disse, mas a consciência verdadeira dessa aproximação é pensar que se morrer amanhã não foi mau de todo. Aguentei 64 anos. É melhor do que o discurso do “coitadinho, morreu tão novo, só com 64”.
E é aproximar-se mais da sabedoria?
Ainda não sei, não tenho idade suficiente para o afirmar. Sei que a capacidade física vai piorar. Custa e é chato. Devia ser ao contrário, ter o máximo vigor para encarar os últimos anos. Morrer e sofrer fisicamente é um duplo castigo. É tirar-nos a vontade de viver antes de a vida acabar. Talvez torne a morte mais doce. O segredo é encontrar a alegria de cada idade. E agradecer termos saúde, podermos falar, termos dinheiro para umas cervejas. Parece irrisório, mas não é.
Visão 13.07.2019 às 19h30
MEC