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"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"
"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"
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Eu sei que não sinto a tua dor. Sei que não sinto a tua tristeza. Ninguém sente mais do que a sua própria mágoa. Ninguém pode sofrer a dor do outro. Se pudesse, sofreria mil vezes por ti, oferecer-me-ia no teu lugar. Mas não posso. Cada um tem o seu caminho a fazer. Cada um tem de construir a pessoa que lhe cabe ser. Só serás forte depois de fraquejares. A vida não cobra aos fracos, só aos fortes. Mas fico triste ao saber-te triste e o meu coração fica pequenino de tanto amor que te tem. A minha tristeza não é a tua, mas junta-se à tua. Duas tristezas juntas conseguem separar o desespero da esperança, o desânimo da confiança. E quando te digo que o tempo repõe a verdade, é porque sei que os enganos, todos eles, fazem sentido. Agora levanta a cabeça e agarra a pessoa que queres ser. Eu vou estar aqui.
lado.a.lado
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"A vida passa tão depressa que, ás vezes, a alma não tem tempo de envelhecer."
- Mia Couto
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... Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos; acredita na integridade da água, do vento, das estrelas. Eu acredito na continuidade das coisas que amamos, acredito que para sempre ouviremos o som da água no rio onde tantas vezes mergulhámos a cara, para sempre seremos a brisa que entra e passeia pela casa, para sempre deslizaremos através do silêncio das noites quietas em que tantas vezes olhámos o céu e interrogámos o seu sentido. Nisto eu acredito: na veemência destas coisas sem principio nem fim, na verdade dos sentimentos nunca traídos.
E a tua voz ouço-a agora, vinda de longe, como o som do mar imaginado dentro de um búzio. Vejo-te através da espuma quebrada na areia das praias, num mar de Setembro, com cheiro a algas e a iodo. E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todo os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre»
Miguel Sousa Tavares- Não te deixarei morrer, David Crockett
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(quantas felicidades se perderam por arrependimento tardio?)
As palavras caem como bombas no interior de duas pessoas que se amam.
Gostava de evitar as mais duras, as que acontecem antes do arrependimento. Quantas felicidades se perderam por arrependimento tardio? Basta um ou dois segundos de atraso e o edifício derriba – um castelo de cartas doentio, obsessivo, sufocante. É impossível respirar por dentro do que podia ser e não é porque houve palavras que foram longe demais: o problema das palavras é não terem coleira. Ninguém sabe onde acaba uma palavra: é um vírus que se propaga, sabe-se lá até onde.
Ninguém segura uma palavra em liberdade.
Tudo para te dizer que ontem falaste demais. Disseste em poucos segundos as palavras que não posso suportar: não sou feliz. Posso aguentar tudo menos a tua infelicidade. Provavelmente o amor não devia ser assim, provavelmente haverá uma outra forma de amor, na qual quem ama só quer, a todo o custo, doa o que doer, quem ama ao seu lado. Mas eu não amo assim. Só te quero se for eu, no mínimo, a causa maior para a tua felicidade. Basta duvidar que é assim para desistir. Sou um fraco, eu sei. Ou então sou forte em excesso – porque só com uma força inacreditável fui capaz, agora mesmo, de deixar o bilhete pousado em cima da cama. E aqui estou: a rua mostra-me que sou, por mais tectos que tenha, um sem-abrigo de ti.
Mas antes sem ti que sem a tua felicidade.
Vou deixar-te – mesmo que, por mais que não o entendas, sejas tu a deixar-me. Há-de doer. Há-de doer tanto, meu Deus. Há-de haver noites intermináveis numa cama qualquer – é sempre uma cama qualquer quando não é uma cama em que esteja eu e o teu corpo no meu. Há-de haver recordações intermináveis, a incapacidade de passar por alguns lugares, de ouvir algumas músicas, de ver alguns filmes. Há-de haver, até, a necessidade de chorar para sangrar melhor.
Viver melhor é muitas vezes a capacidade de sangrar melhor.
Há-de haver mais passados do que futuros. Hei-de querer sempre ceder, procurar-te de novo, querer convencer-me de que ainda posso reverter a situação a meu favor – e que a meu favor também poderia ser a teu favor. Mas depois chegará a lembrança das palavras, as tais três palavras (não sou feliz, não sou feliz, não sou feliz) como um refrão inesgotável, e voltarei à cama vazia, à vida sem tecto de te saber melhor sem mim.
Isto pode parecer uma carta de despedida. Mas é só uma carta de amor: a mais apaixonada das cartas de amor que te escrevi.
Quando fores feliz promete-me que te lembras de mim.
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“O Amor Não Cresce nas Árvores"
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Não percas a esperança. Procura no fundo do teu coração. Às vezes, a esperança esconde-se atrás do medo e do cansaço, mas não te abandona. Às vezes, fica pequenina, pequenina, mal se vê, mas está lá e só precisa que chames por ela. Só precisa que acredites nela. Deixa que venha até ti e se pendure ao teu pescoço como no tempo em que tudo estava para acontecer e ouve de novo a sua voz meiga dizer-te que vai ficar tudo bem.
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[carta ao meu filho]
Promete-me.
Promete-me que vais tentar. Que vais chorar muito mas vais sempre continuar. Que vais acreditar. Que vais querer as pessoas por mais que as pessoas te desiludam. Que vais crer em ti por mais que te digam que deves parar de crer em ti.
Promete-me.
Promete-me que vais em frente. Que não recuarás só porque existe o medo. Que não pararás só porque existem problemas. Que quando te perguntarem “o que queres ser” responderás “tudo o que quiser ser”.
Promete-me.
Promete-me que seleccionarás. Que escolherás com critério aquilo que te pode magoar. Que não quererás desgastar-te com o que não tem solução. Que não te entregarás ao que só serve para te matar e não para te fazer viver. Que mandarás bugiar o que te aparece no caminho apenas para ser mandado bugiar.
Promete-me.
Promete-me que vais preferir a loucura. Que vais arriscar. Que vais ser o maluco de serviço quando for necessário haver um maluco de serviço. Que vais fazer o que nenhum dos outros malucos foi capaz de fazer. Que vais respeitar-te através de não respeitares o que te impede de sonhar. Que vais preferir andar na corda bamba do que ter uma corda ao pescoço.
Promete-me.
Promete-me que vais aproveitar o corpo. Que vais querer o orgasmo sempre que for possível o orgasmo. Que vais querer o prazer sempre que for possível o prazer. Que vais lamber o que te der prazer lamber, trincar o que te der prazer trincar, tocar o que te der prazer tocar. Que vais explorar todos os sentidos porque vais saber que é esse um dos grandes sentidos desta merd@ toda.
Promete-me.
Promete-me que um dia te vais esquecer do corpo. Que quando o corpo já não responder porque está velho vais preferir ser para além dele. Que vais passar por cima das insuficiências dele e vais viver por dentro da tua cabeça. Que vais desprezar o espelho e ser o que sentes que ainda és. Que vais perceber que depois de uma dada altura o importante não tem matéria.
Promete-me.
Promete-me que vais optar por amar. Que quando houver a possibilidade de amar e outra possibilidade qualquer vais amar. Que quando te parecer que amar é inconsequente vais amar. Que quando tiveres a impressão de que amar pode doer vais amar. Que quando tiveres a certeza de que a amar é um mau caminho vais amar. Que quando amar puder existir vais amar. Que vais ter o discernimento de perceber que quando estiveres quase a morrer vais ver que as primeiras quatro imagens que te surgirão na cabeça serão de amor, e as segundas quatro também, e as terceiras e as quartas e as quintas e todas as imagens que puderes ver antes de morrer serão de amor e vão ser sempre de amor.
Promete-me.
Promete-me que nunca vais prometer nada a ninguém. Muito menos a mim, que prometi nunca precisar tanto de alguém e agora te amo assim.
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“O Amor Não Cresce nas Árvores"
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