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Anathema

"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"

Anathema

"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"

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31.12.15, Anathema

 

Continuo a achar que a passagem para um novo ano não equivale a entrarmos noutra dimensão ou noutro portal. No final das doze badaladas não passamos todos a ser bonzinhos, altruístas e destituídos de defeitos; a fome, os conflitos, as guerras e a mesquinhez humana também não se evaporam instantaneamente e o mundo não se transforma subitamente num Paraíso. Por isso, resoluções de final de ano são, para mim, uma mera ilusão. Não as faço. Porque sei que as mudanças não são abruptas. Porque o que eu quero mesmo, hoje, amanhã e nos anos que ainda possa viver é...
... o amor sem reservas dos familiares que sempre estiveram e estão presentes no meu dia a dia e que me têm ajudado a ser aquilo que sou hoje;
... o apoio, a compreensão, o afeto e a capacidade de me apontar os erros dos meus amigos de sempre e dos mais recentes, mesmo dos que a geografia teima em distanciar.

Mas quero mais de mim. Quero continuar...
... a ter força e determinação para lutar por aquilo que ambiciono e para me levantar a cada rasteira que a vida me pregar;
... a ter discernimento para tomar as opções mais corretas e para agir sem nunca trair os meus princípios e valores;
... a não desiludir quem conta comigo e quem em mim confia;
... a ser igual a mim própria, com os meus defeitos e virtudes, mas sobretudo sem nunca perder a capacidade de melhorar a cada dia, sem abdicar da minha liberdade de agir e de pensar.

Assim se cumpra. Tenha eu força e vontade.

 

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28.12.15, Anathema

 

Acordo sem o contorno do teu rosto na minha almofada, sem o teu peito liso e claro como um dia de vento, e começo a erguer a madrugada apenas com as duas mãos que me deixaste, hesitante nos gestos, porque os meus olhos partiram nos teus.
E é assim que a noite chega, e dentro dela te procuro, encostado ao teu nome, pelas ruas álgidas onde tu não passas, a solidão aberta nos dedos como um cravo.
Meu amor, amor de uma breve madrugada de bandeiras, arranco a tua boca da minha e desfolho-a lentamente, até que outra boca – e sempre a tua boca – comece de novo a nascer na minha boca.
Que posso eu fazer senão escutar o coração inseguro dos pássaros, encostar a face ao rosto lunar dos bêbados e perguntar o que aconteceu.

Eugénio de Andrade
in As Palavras Interditas

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27.12.15, Anathema

 

 

Juntamos duas pessoas que ainda não se tinham juntado. Às vezes é como a primeira tentativa para prender um balão de hidrogénio a um balão de fogo: preferimos que se despenhe e arda ou que arda e se despenhe? Mas às vezes resulta, e algo de novo se faz e o mundo transforma-se. Então, a dada altura, mais cedo ou mais tarde, por esta ou por aquela razão, um deles é levado. E aquilo que é levado é maior do que a soma do que lá estava. Isto pode não ser matematicamente possível; mas é emocionalmente possível.

Julian Barnes
"Os níveis da vida"

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26.12.15, Anathema

 

Não deixes que termine o dia sem teres crescido um pouco, sem teres sido feliz, sem teres aumentado os teus sonhos. Não te deixes vencer pelo desalento. Não permitas que alguém retire o direito de te expressares, que é quase um dever. Não abandones as ânsias de fazer da tua vida algo extraordinário. Não deixes de acreditar que as palavras e a poesia podem mudar o mundo. Aconteça o que acontecer a nossa essência ficará intacta. Somos seres cheios de paixão. A vida é deserto e oásis. Derruba-nos, ensina-nos, converte-nos em protagonistas de nossa própria história. Ainda que o vento sopre contra, a poderosa obra continua: tu podes tocar uma estrofe. Não deixes nunca de sonhar, porque os sonhos tornam o homem livre.

Walt Whitman