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Anathema

"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"

Anathema

"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"

Hoje é um dia muito especial

Diz-se que, mesmo antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Tu podes apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece Porque apenas então o rio saberá que não se trata de desaparecer no oceano, Mas tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento. Assim somos nós, voltar é impossível na existência.

...

Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.

Mário de Sá Carneiro
in Indícios de Oiro (1916) 

...

A quem senão a ti direi
como estou triste? Mas se a tristeza vem
de tu não estares, como ta direi, como hei-de juntar o que me está doendo ao vento que não bate mais à tua porta? Eu sei
que a tristeza é só isto, é só isto,
o descoincidir consigo mesmo, eu sei,
descoincidir com os outros, estava previsto
porque dentro de si o mundo não coincide e
não há senão tristeza. Em cada um está Cristo
sempre abandonado, cada um abandonado
a si mesmo, sem princípio e sem fim,
pois no princípio o amor era dado
promessa de te ter sempre junto a mim
não ausência, nem dor, nem habitado
ser por todo este absurdo. Morrer
um pouco, disse, sem saber o que dizia
pois eram só palavras, como se a prometer
tudo aquilo que havia e não havia.

Não haver palavras és tu a desaparecer.

Bernardo Pinto de Almeida

...

Preciso de ti,
chamo-te e não ouves,
ou são os teus ouvidos minerais
como búzios?
Ou perdi eu a voz
com os ventos
em cada onda da tempestade?
Sinto-te como quem apalpa o ar
ou alcança uma nuvem líquida.
Como palmilhar as estrelas
ou querer, sendo cego,
misturar todas as cores do poente?
Sei que estás aí
e és a outra metade do meu corpo.

Não quero ser violentada por palavras agrestes.
Dói-me a ausência
dessa outra parte de mim.

I Dreamed A Dream