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Vergonha da Esperança
Tenho uma dor no peito,
mas tenho vergonha da poesia que a diga —
parece vulgar, dizer “peito”,
quando já nem sei onde ele fica.
A dor dói, mas também se ri,
regozija-se na promessa de outra distração intensa,
como quem pede ao sofrimento um intervalo,
um gole breve de inconsciência.
Detesto a esperança — essa mendiga teimosa
que volta sempre, mesmo quando a expulso.
Mas é dela que se trata,
sempre dela,
esse vício de querer ainda sentir,
mesmo quando o sentir é o que mata.
core