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Certa noite, recebi um telefonema de um amigo querido. Ele apenas perguntou como eu estava, e sem pensar, confessei: “Sinto-me muito sozinho”.
“Queres conversar?”, ele sugeriu prontamente. “Quer que eu vá até tua casa?”
Aceitei. Em menos de 15 minutos, ele estava batendo à minha porta. Passamos horas conversando. Falei sobre meu trabalho, minha família, dúvidas, problemas… e ele, sem pressa, apenas ouvia. Havia algo na sua presença que me trouxe paz, um alívio inesperado. No final da noite, ele disse: “Preciso ir agora, é hora de trabalhar”.
“Desculpa por te manter acordado a noite toda”, eu disse, envergonhado.
Com um sorriso gentil, ele respondeu: “Não há problema, é para isso que servem os amigos”.
Acompanhei-o até a porta, e enquanto ele se afastava, perguntei em voz alta: “Aliás, por que ligaste tão tarde ontem?”
Ele parou, virou-se e, num tom suave, revelou: “Eu fui ao médico. Não sabia como te contar, mas… tenho câncer.” Diante do meu silêncio estupefato, ele sorriu, tentando me tranquilizar: “Falamos sobre isso outra hora, não te preocupes. Cuida de mim, sim?”
Senti um aperto no peito ao perceber o que ele havia feito. Enquanto eu derramava meus problemas, ele carregava, silenciosamente, a dor de sua batalha. Perguntei a mim mesmo como alguém, no meio de sua própria tormenta, encontrava forças para estar ali por mim. Naquele momento, aprendi uma verdade que ecoa desde então: viver para servir não é apenas um ato de bondade, mas uma dádiva para quem abraça.
A vida é uma escada. Se olhares para cima, sentirás sempre o peso de quem está à frente; mas, ao olhar para baixo, verás quantos dariam tudo para estar onde estás.
— Robert Vecchioni