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Anathema

"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"

Anathema

"Todos elogiam o sonho, que é o descansar da vida. Mas é o contrário, Doutor. A gente precisa do viver para descansar dos sonhos"

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31.08.24, Anathema

 

A menina e o sapo.
A história que toda menina deveria ler.
Conto muito sábio sobre relações tóxicas:
«Era uma vez uma menina. Era muito feliz e adorava perseguir as borboletas, correndo pelos belos campos verdes onde morava. Um dia ensolarado ela, como de costume, estava atrás de uma borboleta azul, quando de repente se deparou com um sapo enorme cheio de verrugas.
Que nojo! -exclamou a menina, tapando a boca.
- Você pode ter nojo, mas eu sou um príncipe encantado.
NÃO pode ser - disse a menina descrente.
- É verdade, afirmou o sapo. Uma bruxa lançou-me um feitiço.
Na verdade eu sou um príncipe muito bonito, bonito e rico. Se quebrares o feitiço, eu caso contigo e viveremos felizes.
Todos os dias vou te levar nos braços e te dar flores e jóias...
- Como posso quebrar o feitiço? - perguntou a menina.
- Não vai ser fácil.
Você tem que me levar pra sua casa, cuidar de mim, me alimentar, dormir comigo na sua cama, me dar muitos beijos, me levar pra passear, até que um dia você acorde e veja que eu me tornei um príncipe.
Então sua vida será como um conto de fadas.
A menina ouvia o sapo e não via mais a sua pele cheia de verrugas, os seus olhos saltadinhos e a sua boca lesma, só via um jovem bonito e bonito, de cabelo moreno e olhos verdes, também se via ao seu lado com um vestido branco majestoso, dançando num grande e luxuoso castelo.
Reprimindo o nojo, a garota levou o sapo para casa.
A partir daquele dia, sua vida mudou completamente.
Parou de ir ao campo para perseguir as borboletas, parou de cantar e se divertiu.
Só estava cuidando do sapo que acabou por ser muito caprichoso; pedia croissants para o café da manhã, esparguete com molho bechamel para o almoço e saladas exóticas para o jantar.
Dormia na cama da menina, deixando suas babas nojentas pelo lençol.
A menina não parava de lavar, cozinhar e lavar a roupa de cama.
Não tinha tempo para se cuidar; já não usava vestidos bonitos, nem fazia penteados com laços coloridos.
Três anos se passaram e o sapo continuava nojento; não se tornava um príncipe encantado.
Às vezes a menina olhava para ele e sentia vontade de jogar na rua para viver como antes, mas depois começava a duvidar e tinha medo de errar. «E se estiver quase? » E se amanhã acordar e o sapo se tornar um príncipe com olhos verdes? E outra aproveita o que eu fiz? E se eu não encontrar outro príncipe e ficar sozinha?
Passaram meses. Já ninguém a reconheceu.
Estava uma confusão.
O sapo tornou-se dono da casa e a menina tornou-se sua empregada.
Um dia o sapo gritou com a menina por lhe trazer sua comida tarde.
Ela começou a chorar e saiu de casa. No caminho ele encontrou um passarinho.
Por que você está chorando? - Perguntou-lhe o passarinho.
- Um sapo nojento mora na minha casa. Todos os dias eu limpo sua baba, cozinhou e cuido dele; estou muito cansada e não quero continuar fazendo isso.
- De quem é a casa? - perguntou o passarinho.
- É minha - respondeu a menina, secando as lágrimas.
- E quem te trouxe o sapo?
- Eu fiz isso.
- Por quê?
-Porque ele me prometeu que se eu tomasse conta dele, ele se tornaria um príncipe e se casaria comigo, mas passaram anos e nada mudou.
- Por que não o expulsas de casa?
- E se for verdade? E se o milagre acontecer agora? Esforcei-me muito e ficarei muito triste se eu o deixar e se tornar um príncipe.
E se você passar a vida inteira cuidando dele e ele nunca se tornar um príncipe?
-Quem me dera ter certeza - disse a menina desesperada.
De repente seus olhos se encheram de esperança:
Eu poderia ir ver a bruxa que vive na floresta.
Ela é velha e sábia, com certeza me dirá se o sapo se tornará um príncipe ou não.
Ficou muito feliz e foi ver a bruxa.
-Gostaria de saber se o sapo que mora na minha casa é um príncipe encantado.
A bruxa olhou para sua bola de cristal e disse:
- É apenas um sapo repugnante e nunca será um príncipe.
A menina ficou muito triste e desapontada.
«A bruxa pode estar errada. O que essa velha sabe sobre príncipes? Indo ver uma feiticeira», pensou a menina. A feiticeira vivia em um belo castelo com três torres altas.
-Estou tão cansada do sapo, mas tenho medo que se ele o expulsou de casa, eu perca minha chance de casar com um príncipe.
A feiticeira começou a fazer seus rituais mágicos e no dia seguinte disse-lhe:
- É só um sapo. Nunca será um príncipe.
É melhor levá-lo para o campo.
A menina ouviu a feiticeira e foi embora. Estava furiosa.
- Eles têm inveja de mim! - Exclamou zangada. Claro, quem não gostaria de se casar com um verdadeiro príncipe? Tenho certeza que todos os meus sacrifícios não foram em vão.
E a menina voltou com o sapo. Ele teve que ouvir muitas palavras desagradáveis por ter ido embora.
Limpou a casa da baba do sapo, preparou-lhe o jantar, deu-lhe banho e deitou-o.
O sapo adormeceu feliz. A menina deitou-se na cozinha, em um colchão pequeno e desconfortável.
Antes de dormir, como de costume, sonhava em casar com um príncipe, ter muitos filhos e um jardim cheio de flores.
Ele adormeceu e teve um sonho: Indo por um bosque e viu sua casa que estava prestes a desmoronar.
No pátio estava sentada uma velhota que parecia uma bruxa má.
A idosa ligou para a menina e disse:
- Reconheces-me?
- Não, nunca te vi antes respondeu a menina muito assustada. Eu sou você no futuro.
Todo mundo me dizia que eu era um simples sapo, mas eu estava cega pelo desejo de me casar com um príncipe.
Muitos anos se passaram e o maldito sapo nojento morreu ontem.
Chorei muito por todos os anos perdidos, por ter me tornado uma bruxa velha e amarga que nunca mais pôde perseguir as borboletas, chorei por um príncipe com quem eu nunca me casaria.
-Olha para mim, olha para mim, eu sou o teu futuro.
- Não, não. - Gritou a menina assustada.
- Não me deixas dormir - ouvi a voz do sapo. A menina abriu os olhos e viu o sapo no chão.
-Leve-me para a cama e cale-se-lhe o sapo. A menina lembrou-se das palavras da bruxa da floresta e da feiticeira: «É apenas um sapo».
Levantou-se, agarrou-o com força e aproximou-se da porta.
O sapo sentiu o perigo.
- Ei, você, para onde me leva?
A menina abriu a porta e jogou o sapo o mais longe que pôde.
- Fora! E nunca mais voltes. Não vou cuidar de você e deitar na minha cama.
A casa é minha e eu vou fazer o que eu quiser. Voltarei a correr pelo campo, perseguir as borboletas e aproveitar a vida. Eu não acredito mais nas tuas falsas promessas.
Você é um sapo nojento e nojento. Fechou a porta e sorriu pela primeira vez em muitos meses.
É um conto com uma mensagem muito profunda que nos ensina que não temos que suportar humilhações, maus tratos e desprezo em troca de falsas promessas que os nossos parceiros nos dão.
Ninguém pode nos fazer felizes, nem fazer da nossa vida um conto de fadas.
A única pessoa capaz de criar uma vida de sonho é você, querida.
Confie em você, mime-se, cuide-se e nunca permita que sua felicidade e alegria dependa de um "sapo".
 
Clarice Camargo